Thursday, January 7, 2010

Cotação da sustentabilidade

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Por Cristina Tavelin, da revista Ideia Socioambiental

Índices socioambientais ganham importância para acionistas e empresas que desejam atuar no mercado global.

Atuar em uma economia globalizada requer cada vez mais empenho das corporações: além de aprimorar processos, é necessário comunicar os stakeholders de forma eficiente. Como em nenhuma outra época, os públicos de interesse cobram uma postura socioambientalmente responsável por parte das empresas. Esse aspecto também está se tornando determinante na tomada de decisão de acionistas. Em seu auxílio, contam com índices como o Dow Jones Sustainability World Index (DJSI World) para saber onde investir sem correr riscos no longo prazo.

No último dia 3 de setembro, foi anunciada a lista de empresas presentes na edição 2009/2010 da carteira do DJSI World, que inclui sete brasileiras entre as 2.500 selecionadas. Lançado em 1999, o DJSI World é o primeiro índice global a avaliar a performance financeira das companhias juntamente com critérios socioambientais. Ações de empresas capazes de criar valor no longo prazo e aproveitar oportunidades, além de gerenciar os riscos econômicos, ambientais e sociais integram a concorrida carteira da Dow Jones.

Segundo Ricardo Valente, diretor da consultoria Key Associados, o resultado ainda não reflete o impacto da crise financeira global, pois utiliza como base os dados de 2008. A grande mudança deve ocorrer nos índices de 2010. “As empresas, que reduziram investimentos, mudaram o foco ou adotaram o conceito da sustentabilidade apenas por estar na moda, vão ter dificuldade em demonstrar o seu desempenho de 2009 na avaliação de 2010”, sentencia.

A revisão anual do DJSI é baseada na análise de aspectos de performance econômica, ambiental e social, e inclui questões como governança, gestão de risco, mitigação de mudanças climáticas, padrões das cadeias de suprimentos e práticas de trabalho.

De acordo com Valente, alcançar o nível de abrangência e complexidade solicitado é um grande desafio para aqueles que desejam integrar a conceituada e seletiva carteira da Dow Jones.

“Com um questionário bastante amplo, cerca de 90 questões e outras relacionadas a cada item, há um nível de detalhamento muito grande. A abrangência do questionário, que foca as dimensões econômica, social e ambiental com profundidade e a competitividade de empresas do mundo inteiro, exige que as companhias tenham um nível muito bom em sustentabilidade para ter a habilidade de mostrar isso aos avaliadores”.

Neste ano, 33 novas companhias integrarão o índice enquanto 33 empresas serão excluídas, mantendo o mesmo número de componentes: 317 corporações. Entre as gigantes que passam a integrar o índice estão Johnson & Johnson, Coca-Cola e Samsung Electronics, enquanto as exclusões mais significativas dizem respeito à National Grid, Mitsubishi Estate e SABMiller.

Para Valente, alguns setores deverão enfrentar questionamentos mais rígidos por parte dos avaliadores nos próximos anos devido à sua influência em assuntos socioambientais. “O setor industrial, em função das mudanças climáticas, deve ser muito questionado, juntamente com indústrias que trabalham com recursos naturais, como mineração e energia”, avalia.

As principais mudanças nos critérios de avaliação para a carteira desse ano em relação a 2008 foram a inclusão de itens como gestão de risco e crise, gestão de inovação e atração e retenção de talentos.

A inovação tende a desempenhar um papel fundamental na avaliação das empresas para integrar o índice à medida que processos criativos serão fundamentais para a evolução de uma economia sustentável. “Certos setores são sempre questionados sobre inovações tecnológicas visando diminuir a utilização de recursos naturais e o impacto de suas atividades. É um questionamento que tende a aparecer cada vez mais nos índices daqui para frente”, avalia Valente.

E para empresas que têm ações na bolsa e desejam ampliar sua atuação no mercado externo, índices como o Dow Jones serão fundamentais. Além disso, há uma tendência de que mais recursos sejam investidos em ações que estejam listadas na carteira do DJSI. Linhas específicas, como do banco mundial, já têm como requisito buscar empresas que compõe esses índices. Para Valente, na maioria das corporações, a sustentabilidade ainda se apresenta de forma superficial para cobrir uma demanda tão rigorosa e ainda há muito para evoluir dentro do conceito.

“Em momentos de crise, a maneira como se responde aos stakeholders e a transparência nesse tipo de situação são aspectos que devem evoluir muito ainda”, conclui.

Líderes dos principais setores no DJSI World

Cuidados com a saúde: Roche

Bens e serviços: TNT

Alimentos e bebidas: Unilever

Serviços financeiros: Investimentos Itaú

Materiais e construção: Panasonic Electric Works

Químicos: DSM

Fontes básicas: Aracruz Celulose

Bancos: Australia & New Zealand Banking Group

Automóveis e peças: BMW

Construção: GPT Group

Viagem e lazer: Sodexo

Utilitários: Cia Energética Minas Gerais

Telecomunicações: Telefónica

Tecnologia: Nokia

Varejo: Kingfisher

Pessoal e casa: Adidas

Petróleo e Gás: Total

Mídia: Pearson

Seguros: Swiss Re

(Ideiasocioambiental) 17/9/09